Não poderia deixar de falar aqui a respeito da tragédia que se abateu sobre Santa Catarina. Muitas cidades debaixo d'água, as pessoas perdendo o muito ou pouco que conquistaram durante a vida, você aí, caro leitor, consegue imaginar o que é ter apenas a roupa do corpo de bem material? Consegue imaginar o que é perder seus amigos e familiares, porque você não conseguiu ajudá-los, assistir de mãos praticamente atadas ao fim de tudo o que você conheceu em sua vida? Pois acho que é mais ou menos assim que a pessoa se sente quando vê sua casa, seu lar, sua vida, ser engolida pelas águas.
De qualquer forma, todos nós sentimos um certo nó na garganta ao pensar nisso tudo. Mas as pessoas precisam saber do que anda acontecendo, mesmo que sejam notícias trágicas. E como deve se comportar um jornalista, quando a pauta a ser coberta é uma tragédia dessa proporção? Estaríamos nós preparados a tentar vivenciar isso tudo, de um ângulo bem mais confortável e não podendo fazer muita coisa a respeito?
O portal
Comunique-se divulgou uma
notícia a esse respeito, e eu fiquei sim a refletir, como devemos nos comportar em uma cobertura jornalística, num momento em que as pessoas estão sofrendo? Devemos ser totalmente imparciais e ignorar a dor alheia? É possível ignorar a dor por um furo de reportagem? O que se passa na cabeça de um repórter num momento desses?
E a questão que não quer calar: aonde a questão da ética [seja pessoal, seja profissional] começa a ser ferida num momento desses? Porque fato é que muitos jornalistas aproveitam-se da dor alheia para gerar audiência [vide caso do seqüestro de Santo André]. Como separar o jornalismo de fato, do jornalismo sensacionalista [sim, é incrível, mas ainda tem muito jornalista que pensa mais na audiência, na grana entrando no bolso, do que no bem estar do próximo. Aliás, corrigindo: isso não é falha apenas de jornalista].
No final da matéria, o jornalista que está em SC ainda fala de algo que nós vemos muito por aí: a fatídica pergunta do "tudo bem?" ou "como você se sente nesse momento?". Não, não está tudo bem. Não dá pra sentir muita coisa nesse momento. O que dá pra sentir no momento é verdadeira repulsa por pessoas que só querem saber da glória e do poder, e estão simplesmente ignorando por completo o fato de que, a pauta do momento, são seres humanos que só tem agora a si mesmo e sua vontade de começar de novo.
Pamela Lima disse...
Elementar, minha cara Ana. Elementar.
Estava ontem comentando com meu pai sobre esse sensacionalisto repugnante, sobre a tragédia em SC, etc.
Fiquei assustada quando ele me contou que, existe (ou existia , espero) um programa da Sônia Abraão (perdão, oh Deus) onde ela e um 'repórter' fazem cobertura em velórios, enterros, etc, e lá perguntam assim como quem não quer nada "tudo bem? como se sente neste momento?"
Mas nem tudo está perdido. O bom mesmo é que eu ainda não forjei um dilúvio aqui em São Paulo, ou um sequestro aqui no bairro, e muito menos um enterro, só pra me fingir de defunto, e levantar do caixão pra responder perguntas como essas.
Né?
30 de novembro de 2008 às 14:13
jujudeblu disse...
É...
Uma amiga conhece uma fotógrafa de lá que diz não aguentar mais ver tanta tristeza... :S
tudo é muito triste e nós sentimos sempre muito.
30 de novembro de 2008 às 15:58
Suelen*** disse...
Infelizmente é assim, as pessoas ganham dinheiro hoje em dia em cima da desgraça alheia e não é só os jornalistas, mas também os empresários (que ao acontecer tragédias como a de SC, elevam muitooo os preços de suprimentos básicos) políticos , etc..todo mundo tira uma lasquinha de proveito do desespero do outro para se promoverem.
E por favor, não podemos chamar o programa da Sonia Abraao de Jornalisitico ( a Pamela tá Certa) aquilo é uma avacalhação que só denigre a imagem dos jornalistas de e da TV brasileira.
Obrigado Bj
6 de dezembro de 2008 às 17:34