De tempos em tempos o jornalismo brasileiro... bom, não vamos restringir a vergonha alheia à terras brasileiras.

De tempos em tempos, o jornalismo nos brinda com cenas inusitadas. Algumas rídiculas, outras engraçadas, a maioria que nos deixa com aquele velho sentimento de vergonha alheia. E pra quem como eu está engatinhando nos traços do jornalismo, essas cenas ficam como dicas de "coisas-que-eu-não-quero-fazer-quando-crescer". Esta semana, repórteres da GloboNews e da Record nos presentearam com uma dessas cenas inesquecíveis.

Caso você tenha acordado essa semana, soube que na terça-feira, após dez anos de um apagão que paralisou o sudeste brasileiro, mais uma vez nossas autoridades nos deixaram no escuro. Dessa vez o impacto foi maior e mais longo, e as desculpas ainda não apareceram. Pelo menos não desculpas convincentes. Enquanto não nos derem desculpas convincentes, acredito que os jornalistas não devem dar descanso às autoridades. Por isso, pessoas como o secretário-executivo do ministério de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, têm sido procurados constantemente para tentar dar alguma explicação plausível ao ocorrido.

Na quarta-feira pela manhã, repórteres de vários locais do país se preparavam para entrevistar o secretário-executivo em Brasília. Mas o que mais chamou a atenção neste dia não foi a entrevista do secretário e suas parcas desculpas sobre o episódio apagão. O que virou notícia foi a triste atuação das repórteres Venina Nunes [Record] e Camila Bomfim [GloboNews], que praticamente duelaram ao vivo para todo o Brasil. Tudo por uma entrevista exclusiva com o secretário-executivo Zimmerman.



Daqui podemos tirar lições simples, como a boa educação, a ética, o controle emocional, o saber ouvir e, principalmente, o saber a hora certa de discutir determinado assunto. Tudo coisas que a gente aprende fora da faculdade de jornalismo.

Mas caso você tenha passado longe dessas aulinhas em casa, quatro anos de estudo podem te ajudar a aprimorar esses conceitos. Aprimorar, veja bem, não aprender e incorporar. Porque alguém que não teve ética e educação durante toda a sua vida, não aprenderá esses conceitos em quatro anos de faculdade.

Claro, vale lembrar, estudantes de jornalismo do meu Brasil varonil: não fiquem por demais alarmados. Afinal, estamos pra conseguir a obrigatoriedade do diploma de novo. E com certeza, cenas vergonhosas como essa não serão mais rotina no jornalismo brasileiro. Ah... tinha esquecido: elas têm diploma de jornalismo.

Lamentável.

Eu sou uma jornalista sem diploma. Uma quase jornalista. Estou na metade do caminho.

Estar na metade do caminho é algo assustador, porque você já percorreu o suficiente para se orgulhar de tudo o que fez, mas não percorreu o suficiente para deixar de pensar em desistir. E tudo, tudo nesse caminho de pedras do jornalismo faz com que eu pense duas, doze, vinte vezes: estou fazendo realmente o certo? Estou no caminho que deveria estar? Posso fazer mais? Consigo fazer mais? Tenho que fazer mais?

A metade do caminho é onde geralmente, nos filmes e nos romances, nos teatros e na vida, você encontra uma bifurcação. Alguns caminhos diferentes a seguir. Geralmente, nessa parte do caminho, onde você encontra opções, você para, senta e descansa da caminhada. Reflete sobre tudo o que viveu, e tudo o que pode viver se optar pelo caminho A, B ou C. Ou outros que tenham na sua bifurcação, encruzilhada, como queiram. A metade do caminho é assustadora.

Mostra que você já percorreu muito, mas ainda falta bastante para o final. Final que, se você pensa, não é bem um final, mas apenas o começo de um outro caminho. Caminho que talvez seja mais fácil, talvez seja mais difícil, mas que você só vai saber quando chegar no final deste caminho.

E neste caminho você ainda está na metade. Eu estou na metade. Estamos na metade, e, pra falar a verdade, não me sinto pronta para percorrer a outra metade.

Muita coisa tem acontecido nesses dois anos de faculdade de jornalismo. Em muitos momentos, eu pensei em desistir. Não é pra mim, noites viradas sem conseguir escrever uma mísera matéria, não saber por onde começar a cobrir sua pauta, odiar consideravelmente o PageMaker [e agradecer a todos os deuses que excluíram essa maldição do mundo do jornalismo], estar na frente de um entrevistado e só pensar "e agora?". Percorrer mundos e fundos e não conseguir nada para uma matéria que já deveria ter sido entregue. Ver que o caminho parece mais fácil para todos, menos para você. Isso definitivamente não é pra mim.

Mas aí acontecem coisas... de repente, uma matéria que parecia impossível acontece, de repente você conhece pessoas que, fora do curso, você não teria a oportunidade de conhecer, de repente você escreve a matéria que faz até seu cachorro sentir orgulho de você. Então surgem os facilitadores do caminho, surgem os contatos, surgem as oportunidades de mostrar seus [poucos] talentos. Surge uma vontade de fazer e ser melhor. E então você resolve continuar.

Eu resolvi continuar.

Com ou sem diploma, quem faz jornalismo, e gosta do que faz, gosta das noites mal dormidas, gosta do estresse emocional, gosta do desespero de não saber se cumprirá com o deadline, gosta de correr atrás da notícia e fazê-la chegar a público... com ou sem diploma, o jornalista de verdade não desiste.

Estou saindo da metade do caminho. Vocês me acompanham?

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